Semana que vem faço 31 anos.
Sempre que estou perto do meu aniversário fico nostálgico e começo a fazer uma retrospectiva da minha vida e lembrei que quando eu tinha 20 anos eu odiava qualquer rotina.
A geração do bullshit
A minha geração passou a adolescência ouvindo um monte de bullshit sobre ela mesma. Que merece tudo, que não pode ser criticada, que é especial, que todo mundo pode ser nômade digital feliz trabalhando com o que quiser o tempo todo e de onde quiser e mais um monte de coisas que transformaram essa geração em uma tremenda quebra de promessas (como diz meu amigo @dpassarini)
Pra não ficar tão ruim pra esse lado, acho que a geração seguinte é um pouco pior que precisa de reunião de pais na faculdade!
A religião da juventude
Virou uma religião, cuja divindade é o Eu e o mote da sagrada escritura é Você pode o que você quiser é só querer muito, provavelmente tirado de algum filme da Xuxa com os Trapalhões. A única coisa que pode te atrapalhar no caminho são os invejosos, que como uma força demoníaca não concordam com você!
E eu?
Eu não era diferente dos outros, achava que era mas era igualzinho e é capaz que eu ainda seja…
Corolário: eu odiava rotinas. Achava que rotinas eram feitas pra quem tinha preguiça de pensar, que quem fazia sempre a mesma coisa era um rato numa rodinha, que pessoas especiais tinham horários especiais.
O problema de não ter rotina é que você não tem controle. Tem dificuldade de planejar seu trabalho, seus estudos e até mesmo suas ideias. Você procrastina mais e sempre que eu decidia sentar a bunda na cadeira e fazer alguma coisa sempre começava pelo planejamento. Quando acabava de planejar me dava por satisfeito, como se já tivesse feito alguma coisa e na verdade, não tinha feito absolutamente nada.
Esses problemas acabam criando uma ansiedade gigantesca e me deixavam doente de verdade: manchas na pele, labirintite, perda de audição e ataques de pânico. Até que travei, perdi a vontade de fazer tudo, já que não estava conseguindo fazer nada. Perdi praticamente um semestre inteiro da faculdade e essa paralisia destruiu tudo que eu achava que sabia sobre mim.
A recuperação
Aquela imagem que eu tinha de mim não servia pra mais nada. Não era especial, porra nenhuma, mal conseguia lidar com a ansiedade e as frustrações. Tive que aprender continuamente a ser humilde.
E o que humildade tem a ver com rotina? Pra mim tudo. Pra você construir uma rotina você precisa se forçar muitas vezes a fazer coisas que você não quer, em momentos que você não quer. Fazer coisas chatas sem pensar que você é bom demais pra aquilo. Tem que meter a mão na massa de fato. Reconhecer que pra chegar em algum lugar você tem que começar do zero.
Enfim, o assunto
A rotina é a melhor forma pra você alcançar algum objetivo e ela não precisa ser uma coisa maçante e inflexível. A rotina é só a sua maneira de fazer alguma coisa normalmente. Não precisa ser a minha rotina, nem a rotina do Abilio Diniz. A rotina só precisa de limites e metas impostas por você mesmo. Pode até ser uma coisa pequena como ligar pra 10 clientes por dia, responder 40 perguntas no MercadoLivre ou escrever uma página de um livro por dia.
Não precisa ser chato e entediante. Só não pode dar aquela roubadinha na rotina e deixar ela livre demais a ponto que você consiga dar desculpas pra si mesmo.
Nunca tinha parado pra pensar nisso até ontem. Eu tenho uma rotina mas nunca tinha atribuído a ela várias coisas que alcancei como aprender inglês sozinho, criar vários produtos, trabalhar em home office e muitas outras coisas que seriam impossíveis sem uma rotina.
Um livro que estou lendo me ajudou bastante a enxergar isso: The Willpower Instinct. Nesse livro a autora, que é professora de Stanford, mostra como a rotina, entre outras coisas, permite que você use melhor seu córtex pré-frontal, justamente a área do cérebro que é responsável pelo seu auto-controle.
A rotina não é a única forma de alcançar objetivos, tem gente que consegue criar as coisas de forma caótica. Mas isso funciona pra todo mundo? e pra você? Essa é uma boa pergunta pra se fazer antes de descartar a rotina, como o Fernandinho de 20 anos…
Saia da Rotina
Sempre ouvimos isso: “Saia da Rotina”, “Pense fora da caixa”, “Mude pra variar”, etc… para todas essas coisas se pressupõe que você tenha uma rotina. É uma delícia sair da rotina, justamente porque existe a rotina. Quem não gosta de tirar um dia na semana pra ir num barzinho com os amigos? Se o barzinho fosse todo dia o dia inteiro e você não trabalha em bar seria um problema e não uma coisa agradável. Todas essas coisas de sair da rotina e pensar fora da caixa são tão cliché, tão lugar comum e é isso o que mais vemos por aí, é a parte gostosa da semana e do tempo presente…mas pra ter a parte legal na qual você se visualiza no futuro é preciso justamente a rotina…
Cara, li o livro O poder do hábito, que menciona exatamente isso. O piloto automático que se instala na gente pode ser algo benéfico. No livro mosta a rotina do nadador Michael Phelps em seus treinamentos e de como isso ajudou ele a ser o atleta campeão que conhecemos.
Legal a dica, valeu. Acho que vou ler esse em seguida. Phelps pra mim é um atleta fantástico, entrou pra história entre os maiores e vai continuar por lá pra sempre.
Muito bom o post! Atualmente estou desempregado e como sempre estudei/trabalhei, a falta de rotina e frustração tem me prejudicado muito. O post descreveu exatamente o que acontece comigo. Vou seguir a dicas que você passou. Obrigado e grande abraço!
A melhor coisa cara. Eu já estive nessa situação também mais de uma vez, dá um desespero. Se eu ia para a academia ou ver um filme ficava me sentindo meio mal, como se não pudesse fazer nada que não fosse procurar um freela ou outra coisa e isso só piorava a ansiedade. O melhor que fiz foi entender o que eu iria fazer como “obrigação” pra poder cumprir e me permitir outras coisas também… não é fácil, tem muitos sentimentos envolvidos também… mas método é bom pra focar mais no presente no lugar de ficar agitado quanto ao futuro
Concordo! Muito bom o texto!
Estou no meio de uma quebra de rotina que está sendo maravilhosa! A certeza de o que tenho produzido no meu dia a dia está sendo muito bom faz com que eu aproveite muito mais essa quebra!
Eu pensava a mesma coisa que o Fernandinho de 20 anos até pouco tempo atrás e perceber o quanto isso não me fazia bem é o que esta me fazendo chegar a algum lugar agora!
Cara, é isso mesmo!
Que bom para você que só perdeu 6 meses de faculdade, eu perdi uns 10 anos… hahahah
Estou correndo atrás do tempo perdido agora! Começando do zero!